O crescimento dos casos preocupa autoridades de saúde e especialistas, que reforçam a gravidade dos riscos e a necessidade de atenção imediata à origem das bebidas consumidas.
O crescimento dos casos preocupa autoridades de saúde e especialistas, que reforçam a gravidade dos riscos e a necessidade de atenção imediata à origem das bebidas consumidas.
São Paulo enfrenta uma série de intoxicações relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica utilizada em processos industriais.
Segundo Álvaro Pulchinelli Júnior, especialista em Clínica Médica, Medicina Laboratorial e Toxicologia, da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) campus São Paulo, o perigo do metanol está no processo de metabolização dentro do organismo.
“Ao ser ingerido, o metanol é transformado em ácido fórmico, elemento extremamente tóxico que pode lesar o nervo óptico, o fígado, os rins e o sistema nervoso central. Como não possui cor, sabor ou odor característicos, passa despercebido, tornando-se uma das formas mais traiçoeiras de intoxicação”, explica.
Os primeiros sintomas podem surgir entre seis e 24 horas após a ingestão, variando conforme a quantidade consumida. De acordo com Feres Chaddad, professor da disciplina de Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, sinais de alerta incluem náusea, vômito, dor abdominal, dor de cabeça intensa, tontura, fraqueza, sonolência e alterações visuais.
“Mesmo pequenas doses podem causar danos permanentes. Apenas 10 ml já podem provocar sintomas graves, e acima de 30 ml o risco de morte é altíssimo. O ácido fórmico atinge diretamente o nervo óptico, podendo levar à cegueira irreversível, além de acidose metabólica grave, convulsões, coma e até morte encefálica”, alerta.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico inicial é clínico, baseado no histórico do consumo de bebidas de procedência duvidosa e na avaliação dos sintomas gastrointestinais e neurológicos. Exames laboratoriais podem confirmar a presença do metanol ou da acidose metabólica.
O tratamento deve ser imediato. “Não há remédio caseiro ou truque que funcione. Nem água em excesso nem medicamentos para ressaca neutralizam o metanol”, reforça Pulchinelli Júnior. Em ambiente hospitalar, o tratamento pode incluir o uso de antídotos específicos, como o fomepizol, além de medidas de suporte, como correção da acidose com bicarbonato e, em casos graves, hemodiálise.
Chaddad complementa que: “Quanto mais cedo o atendimento, maiores as chances de evitar sequelas. Pessoas que desconfiarem de ingestão de bebida adulterada devem procurar o hospital imediatamente, mesmo sem sintomas aparentes.”
Prevenção e orientações à população
Ambos os especialistas destacam que a principal medida de prevenção é o consumo responsável e consciente. É fundamental adquirir bebidas apenas de fontes confiáveis, verificar selo fiscal, rótulo e desconfiar de preços muito abaixo do mercado.
“Evite bebidas de origem desconhecida, mesmo que pareçam limpas e cristalinas. Ao menor sinal de alteração na visão, dor de cabeça intensa ou mal-estar, procure assistência médica imediatamente”, orienta Chaddad.
Pulchinelli Júnior reforça a necessidade de atenção ao consumo de qualquer bebida. “O momento exige cautela, mas não pânico. A mensagem mais importante é simples: atenção à procedência da bebida e procura imediata por atendimento em caso de sintomas.”