Documentário #Respeitenossofluxo escuta adolescentes do DF e propõe debate sobre menstruação, machismo e evasão escolar. A obra traz relatos reais de estudantes e será distribuída com ações educativas e materiais pedagógicos acessíveis.
Documentário #Respeitenossofluxo escuta adolescentes do DF e propõe debate sobre menstruação, machismo e evasão escolar. A obra traz relatos reais de estudantes e será distribuída com ações educativas e materiais pedagógicos acessíveis.
No Distrito Federal, mais de 271 mil mulheres vivem em situação de pobreza menstrual, o equivalente a 17,3% da população feminina da capital. Muitas delas são adolescentes da rede pública, que, ao menstruarem, enfrentam não apenas o desafio de cuidar do próprio corpo com dignidade, mas também a vergonha, a evasão escolar e a invisibilidade.
Embora reconhecida como violação de direitos humanos por organismos internacionais, a pobreza menstrual permanece naturalizada no cotidiano de milhares de estudantes brasileiras. Um levantamento realizado pela UNICEF e pelo UNFPA em 2021 revela que uma em cada quatro meninas já deixou de ir à escola durante o período menstrual. Mais de 4 milhões de alunas frequentam escolas sem banheiros com sabão, lixeiras ou estrutura mínima para higiene. No DF, mesmo com a sanção de uma lei, em 2021, que garante a distribuição gratuita de absorventes em escolas e unidades básicas de saúde, a política pública segue sem implementação efetiva.
É diante desse cenário que surge o projeto #Respeitenossofluxo, que durante o mês de agosto realiza um ciclo de gravações em escolas públicas do DF. A proposta parte da escuta direta de adolescentes, com o objetivo de transformar relatos sobre menstruação, vergonha, corpo e machismo em um documentário de 15 minutos e em ações educativas que envolvem rodas de conversa, debates mediados e materiais pedagógicos.
“Mais do que falar sobre menstruação, queremos falar sobre escuta, silenciamento, autonomia e o direito de existir com dignidade. O cinema, nesse contexto, é uma ferramenta pedagógica potente. Ele permite uma escuta ativa, sensível, e abre espaço para que as estudantes se reconheçam como produtoras de saber e transformação social”, afirma a diretora e idealizadora do projeto, Luciellen Castro.
Escuta como prática pedagógica
O projeto nasceu a partir de uma roda de conversa promovida com estudantes no Dia Internacional da Mulher. A ação partiu da pergunta: o que realmente faz sentido discutir com as estudantes nesse dia? A resposta foi construída coletivamente.
Entre as meninas, surgiu o desejo de falar sobre o corpo, sobre medo e vergonha. Por que a menstruação ainda é um tabu? Por que é motivo de constrangimento ou exclusão? Por que fomos ensinadas a esconder nosso sangue? No final da roda, a educadora perguntou às meninas: ‘Como você gostaria de ser tratada pelos meninos dessa escola?’. Para os meninos, a provocação foi: ‘Eu fui machista quando...’. As respostas, segundo ela, indicaram um campo sensível de escuta que não encontra espaço no dia a dia escolar. A partir dali, nasceu o desejo de registrar essas falas e aprofundar o debate.
Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, o projeto #Respeitenossofluxo prevê cinco rodas de conversa com estudantes, cinco exibições públicas com cine debates mediados e a produção de um material pedagógico voltado a professores da rede pública. Todos os produtos serão acessíveis, com legendas, audiodescrição, janela em Libras e linguagem simples.
Além da abordagem audiovisual, o projeto aposta em uma educação centrada na escuta e na valorização das experiências. “Queremos contribuir para que a escola seja reconhecida como um espaço de pertencimento, em que adolescentes possam refletir, criar, tirar dúvidas e não se sintam rechaçadas por isso. Que entendam que seus corpos importam e devem ser respeitados [...] Espero que o documentário ajude a abrir espaços de diálogo, dentro e fora da sala de aula, e que professores e professoras possam utilizar essa temática como uma chave de escuta”, complementa Luciellen.
Justiça social começa pelo básico
A equipe do projeto é formada majoritariamente por mulheres, entre educadoras, comunicadoras, produtoras culturais e especialistas em acessibilidade. Entre elas está a professora Ravenna Silva, mulher negra, candomblecista, bióloga, mestra em Educação em Ciências e pesquisadora das relações étnico-raciais no ensino. Atuante nas redes pública e privada do DF, Ravenna será responsável por conduzir as rodas de conversa com os estudantes.
Em sua fala, ela ressalta que discutir menstruação nas escolas é também abordar desigualdade, saúde e permanência escolar:
“Menstruar em um país desigual como o nosso é lidar com a falta de acesso ao básico: água, absorventes, estrutura escolar. A menstruação ainda é um tabu, marcada por machismo, vergonha e silenciamento. Meninas cochicham para pedir um absorvente, sentem-se constrangidas, muitas faltam à escola e até reprovam por não terem como lidar com o ciclo menstrual. É urgente que a sociedade compreenda que essa pauta não diz respeito apenas à saúde, mas ao direito à educação, à dignidade, à permanência escolar e à equidade.”
Ravenna destaca que, mesmo entre estudantes da rede privada, com maior acesso a recursos, o desconhecimento sobre a pobreza menstrual é alarmante:
“As pessoas não têm noção do impacto de menstruar sem estrutura. Falta informação, e falta compreensão de que isso é uma pauta coletiva. Levar esse debate para dentro da escola, para todos os alunos, menstruantes ou não, é o primeiro passo para transformarmos o silêncio em mobilização.”
Sobre a realizadora
Luciellen Castro é roteirista, diretora, atriz e arte-educadora, é graduada em Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, pós-graduada em Arte-Educação pelo Senac e mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Iniciou sua trajetória em 2009 e atuou na cena teatral cearense em espetáculos como “Você Não Consegue Parar”, “Majestic Bar”, “A Noiva e o Condutor”, “Ferocidades Adormecidas” e “Tentativas Contra a Vida Dela”.
Em Brasília, dirigiu “E se nós tivéssemos um nome?” (Festival de Teatro de Curitiba), trabalhou como arte-educadora no Centro Cultural do Banco do Brasil e dirigiu projetos premiados como os curtas “Ninguém tá vendo, mas eu tô” e “Intervalo”. É diretora e roteirista dos curtas “Escolas com Barreiras” e “A menina Corina em: Quantos mundos cabem em um mundo só?”. Em 2023 e 2024, realizou o projeto bilíngue “A História que Eu Vejo” e a visita teatralizada “Museu Dinâmico de Cera”, no Museu do Catetinho. Seu trabalho mais recente é o teatro infantil “O Menino e o Tempo”, e atualmente desenvolve o mini documentário #Respeitenossofluxo, sobre menstruação e adolescência.
Ficha técnica:
Direção de Produção/ Roteiro/ Direção Cinematográfica: Luciellen Castro
Produção Executiva: Karen Monteiro
Direção de Fotografia: Amanda Guimar
Operadora de câmera: Raíssa Ferreira
Consultora de Roteiro: Lorena Figueiredo
Assistente de Produção: Thalita Araújo
Assistente de direção: Nathalie Costa
Gaffer: Ada Souza
Assistente de luz: Alef Rabelo
Debatedora: Ravenna Silva
Consultora de Acessibilidade: Alice Araújo
Equipe de comunicação: Letícia Rick e Laryssa Ribeiro
Still: Bruna Araújo e Fernanda
Diretor Musical: Filipe Campos
Captação de som: Bruna Cardoso
Assistente de som: Enrico Scodeller
Editor/Montador: Giovanni Altoé
Direção de Arte: Isabella Alves
Assistente de Arte: Elfa
Assessoria de Imprensa: Valéria Amorim (Candiá Produções)
SERVIÇO
Projeto: #Respeitenossofluxo
Gravações: agosto de 2025
Mini documentário: 15 minutos, com lançamento em 2025
Ações educativas em escolas: 5 rodas de conversa, 5 exibições, 3 cine debates
Mais informações: www.instagram.com/respeitenossofluxo
Contato para a imprensa
Valéria Diniz de Amorim
[email protected]
(61) 9 8242-4262 (WhatsApp)