Projeto desenvolve taxonomia nacional para classificar tecnologias, serviços e aplicações digitais no SUS e em sistemas de saúde pública e privada.
Projeto desenvolve taxonomia nacional para classificar tecnologias, serviços e aplicações digitais no SUS e em sistemas de saúde pública e privada.
Como classificar, de forma clara e funcional, os diferentes tipos de tecnologias, aplicações e serviços que hoje compõem o crescente universo da saúde digital no Brasil? Foi com essa pergunta que pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram um sistema inédito de classificação para intervenções digitais em saúde, voltado especialmente para o contexto brasileiro. A iniciativa, de caráter acadêmico e sem fins econômicos, busca oferecer uma estrutura padronizada que possa ser usada por profissionais, gestores públicos, pesquisadores e desenvolvedores da área.
Batizado de Classificação de Intervenções, Aplicações e Serviços em Saúde Digital para o Contexto Brasileiro (CDHI.br), o projeto apresenta uma taxonomia hierárquica de conceitos que relacionam problemas de saúde, intervenções digitais e tecnologias habilitadoras. A ideia é contribuir com a organização de políticas públicas e iniciativas do setor, como o Programa SUS Digital, a Estratégia de Saúde Digital 2020–2028 e as ações do Comitê Estratégico de Prospecção Tecnológica em Saúde Digital (CT-SD/RNP).
Coordenador do projeto, o professor do Departamento de Informática em Saúde da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, Ivan Pisa, explica que a saúde digital cresceu de maneira muito acelerada nos últimos anos, especialmente durante e após a pandemia que, consequentemente, gerou uma explosão de soluções, ferramentas e propostas tecnológicas. No entanto, segundo o especialista, ainda se carece de uma linguagem comum, estruturada, para classificar e organizar essas intervenções de modo que elas possam ser integradas aos sistemas de saúde.
Disponível em acesso aberto na plataforma saude360.app.br/cdhi, o sistema propõe uma classificação dividida em três níveis principais: problemas de saúde, intervenções digitais e tecnologias habilitadoras. A partir dessa organização, é possível mapear, por exemplo, quais tecnologias são mais adequadas para o monitoramento remoto de pacientes com hipertensão arterial, ou quais aplicações digitais estão disponíveis para ampliar o acesso à saúde mental em áreas remotas.
A taxonomia é apresentada em estrutura hierárquica, semelhante a sistemas amplamente adotados em saúde, como a Classificação Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). No caso da CDHI.br, no entanto, o enfoque está em categorizar intervenções e soluções digitais, incluindo desde teleconsultas e aplicativos móveis até plataformas de inteligência artificial, realidade aumentada e análise preditiva de dados clínicos.
O objetivo é facilitar a interoperabilidade, o planejamento de políticas públicas e a análise estratégica de investimentos em saúde digital. Segundo o professor Ivan Pisa, o CDHI.br também poderá ser útil para editais de inovação tecnológica, regulação de produtos e serviços de saúde digital, organização de currículos acadêmicos na área e para fins de pesquisa e avaliação de impacto.
Um dos diferenciais do projeto é sua adaptabilidade ao contexto nacional. Apesar de se basear em classificações internacionais, como a proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) para intervenções digitais em saúde (Digital Health Interventions – WHO DHI), o CDHI.br foi desenvolvido considerando a realidade brasileira. Isso inclui fatores como as prioridades do SUS, os níveis de maturidade tecnológica dos serviços de saúde no país e as necessidades regionais de acesso à atenção primária, especializada e hospitalar.
A equipe também procurou alinhar a taxonomia com iniciativas de transformação digital já em andamento no Brasil, como o Conecte SUS, os sistemas de prontuário eletrônico interoperável, o uso de big data em vigilância epidemiológica e a expansão da telessaúde em áreas remotas.
O projeto está aberto à colaboração de profissionais, instituições e pesquisadores interessados em contribuir com o aprimoramento contínuo da ferramenta. Uma das premissas do CDHI.br é ser um recurso dinâmico e em constante atualização, à medida que novas tecnologias e modalidades de cuidado digital surgirem.
O projeto não possui financiamento externo e é fruto do trabalho colaborativo de docentes e pesquisadores da Unifesp, com base na experiência do Departamento de Informática em Saúde da EPM, referência nacional na área. A expectativa agora é ampliar a divulgação da ferramenta e promover seu uso nos diversos níveis do sistema de saúde.
A CDHI.br já está disponível ao público e pode ser acessada gratuitamente no link: